sábado, 31 de julho de 2010


Eu tenho uma alma que não se ajeita no corpo .

Tenho um pensamento que não se ajeita na cabeça

E um corpo que não se ajeita no mundo...

É um desarranjo orquestrado .

Não sei se o mundo é que me incomoda,

ou se sou eu é que incomodo o mundo .

É uma estranheza mútua .

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009


Lá estava ele despido ao seu lado . Um estranho conhecido há pouco menos de um mês , que não lhe era mais tão estranho . Na sua mente não havia respostas claras diante daquela situação ,ela simplesmente estava do lado do estranho-conhecido semi despida escondendo as vergonhas .Naquele momento vergonhas não faltavam , olhando no olho dele ela transmitia silenciosamente gritando de dentro de si o quanto ela repugnava aquela situação . Mas será os instintos? Por que me faltam nessas horas... Lembrou desapontada de como ele parecia uma pessoa agrádavel antes depronunciar a palavra motel . Seu corpo diante da situação que persistia em assombrar suas emoções soltou uma linha de sangue , sua vergonha sangrou . Sua alma menstruou o desprazer alojado em seus suspiros . Institivamente o semi-desconhecido desconfiou da menina e tentou disfarçar o imenso desprazer. Os dois vestiram-se , abraçaram-se , durmiram . Ela , aflita sonhou com gente gemendo .Ele , contrariado , era o cara que gemia no sonho da garota . Que talve já fosse realidade .

domingo, 14 de dezembro de 2008


Difícil é interpretar as coisas que não nos acontecem .

Quando te vêem e não falam contigo .

Quando falam-te um 'talvez' , quando já se tem a certeza .

E se há desenganos ?

Quem saberá ?

Não somos oniscientes .

Cobaias dos nossos sentimentos desvairados .

Nos oferecem os amigos e nos oferecemos a eles por completo .

Porque se há de confiar em alguém .

Porque se há de viver o experimento .

Mesmo com tanta parcialidade .

A vida é dura .

E nós , ao sermos lapidadospela nossa vivência ,

passamos a controlar obstinadamente os sentimentos , sorrisos e critérios .

Daí você vive .

Por que não se tem escolha .

É como escola interna , mas dentro de você .

terça-feira, 7 de outubro de 2008


- o que você tem aí ?

- Um papel em branco , e um lápis descascado .

- E por dentro ? Você insiste em fugir quando o assunto é você , desvia o olhar , aperta o lápis na boca , finge não ouvir .

- Talvez porque o dentro de mim é mais branco que esse papel .

- Impossssível ! O que tem aí dentro tem muita cor , mas parece que tem medo de se expor a luz dos olhos alheios .

- A luz faz com quem surjam sombras dentro de mim . Ressalta os meus medos ...

- Por que tanto medo ?

- Por saber como é a vida cheia de cores e luz que as sustentam . Saber como é doloroso quando essa luz se vai e deixa o escuro, vazio , as cores perdem seu brilho , o porquê de ser .

- Fugindo da realidade , você apenas se esconde atrás dessas sombras , é isso o que quer ?

- Escondo-me atrás das sombras que habitam meu interior , pois elas são os últimos vestígios de luz que sobraram em mim...

- E o que você espera ? Uma luz ?

- Não se sabe o que virá... mas assim podem me ver .

- Como sombra ?

- Como alguém que foi feliz .

- E não é mais ?

- Agora sou saudade .

- E um mistério , como se falasse assim para me atrair , para que a conheça mais e me aproxime desse seu vazio , como quem se joga num poço por curiosidade..

- Cada um possui um jeito de atrair sua luz .

domingo, 28 de setembro de 2008


Entre o copo agora vazio e a cadeira cheia de marcas e incomôdos , estava eu a desperdiçar meus pensamentos e filosofias 'vans' , conversando com muitos durante a madrugada sem nada dizer , apenas os dedos a pularem entre as teclas... Um decifrava O Senhor dos Anéis , livro que eu nunca li , filme que durmi... conversas aleatórias me prendiam diante da tela que não me vê , escutando a música que não me ouve e lendo poetas que não me conheceram . E lá se vai mais uma madrugada de segunda , com meus brinquedinhos artificiais ...

sexta-feira, 19 de setembro de 2008


Havia uma tigela de leite branco ,onde antes havia cereal, não tratava-se de um deslize ou de uma redundância , aquele leite era mais branco que os demais mesmo.A cidade estava nublada e dentro de casa fazia frio , daí ela colocou as meias e ligou o rádio . Quase um ritual , tirando que dessa vez o leite estava surrealmente branco. O rádio agiu de forma previsível , tocou as músicas que não condiziam com seu humor e anunciou notícias que o piorava . Ela não sabe ao certo o porquê de ainda dar ouvidos aquele aparelho velho . Ao menos as meias cumpriam calorosamente seu papel, o leite a incomodava . Ela pensou no moço que levantou cedo pra tirar o leite da vaca e depois destinou todo seu cansaço para a indústria e sentiu uma raiva imensa dele. Dele , da vaca e da indústria também . Jurava que ali mais que líquido viscoso branco,tinha também as lágrimas do animal , ou esperma , ou tristeza . Será que o moço acordou triste porque o filho dele não entendia por que tinha que ler e sua mulher o apoiava?Será que a vaca sentiu ,naquele dia saudade do cabritinho e de seu boi? Será que a grama estava mais verde e o tempo mais hostil ? Ela certamente não entendia porque tantos fenômenos a rondava , mesmo quando o assunto em questão era seu leite . Ah , o mundo é o que seu olho reflete pra mente e traduz em seus pensamentos . Dias ''brancos'' eram precisos . Dias brandos . Ela não entendia , e até o leite gritava para seus olhos tal necessidade , mas seus pensamentos moravam em destinos incertos.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Sobre ânsia e dores .


Cada pessoa pensa como pode...
Mário Quintana .

E eu penso que meus pensamentos não conseguem sair de sua condição e frustram-se ,não tornam-se ações . São como lagartas que não viram borboletas , talvez pela precariedade ou o conforto de seus casulos ... e um jardim sem borboletas nem é admirável , é cinza-morto , inválido . Pior que isso , não sei lidar com as ações quando acabadas , talvez por não conseguir tratá-las quando estão sendo efetuadas .... ah Lispector ,Quintana e Andrade .